sábado, 14 de janeiro de 2017

A ida e a Península Valdez

Dia 14 de janeiro, sábado
Para essa viagem, alugamos uma Van Jumper Citroen de 9 lugares, super espaçosa - podíamos levar tudo o que quiséssemos. A novidade desta viagem é o spot instalado pelo Cascata que informava, via satélite, aos familiares e interessados a nossa localização, a cada 5 minutos. Com a van parcialmente carregada no dia anterior, saímos às 6h30min de Porto Alegre. Os Hess Prisco e os Heineck Neves. Acoplamos  sobre a van 4 calhas para bikes, pois a ideia é fazer alguns trechos pedalando. Como a van é bastante alta, o Sérgio nos emprestou uma providencial escada, que cabia também no porta malas, para colocar e retirar as bicis. Levamos mantimentos para eventuais preparos de refeições e alojamento em camping. Neste primeiro dia andamos 1.050 km sendo que os motoristas Ricardo e Bruno se revezaram. No Batovi, em São Gabriel, comemos o famoso pastel e pães de queijo pelas 11h. Em Uruguaiana, os trâmites de fronteira não demoraram, havia pouca gente. Por outro lado, no sentido contrário, a fila de hermanos entrando no Brasil era interminável. Em Libres tratamos de comprar o kit que soubemos ser exigido para trafegar pelo país: triângulo extra, mortalha, cambão, jaleco fosforescente, caixa de primeiros socorros, adesivo indicativo da velocidade permitida para colar na traseira do carro. Era hora da siesta, então, antes de conseguirmos uma loja aberta, cambiamos uns pesos no famoso "Buraco", com um dos cidadãos sentados à beira da estrada e que fazia da sombra de uma árvore seu escritório. Câmbio: 1real = 5 pesos. As paradas foram apenas para abastecer e ir ao banheiro, sendo que a maior decepção foi o parador "Regional Maria" anunciado muitos km antes com placas convidativas de comidas e se revelou ser apenas um grande quiosque para comprar queijos, alfajores, artesanato, conservas etc etc. Não era lancheria ou restaurante e nem o banheiro pudemos usar, pois estava em reformas. As estradas nesta parte da Argentina, são todas duplicadas e muito boas. Demos muita sorte ao pararmos, em Concórdia, já à tardinha, num posto YPF que tinha também um restaurante e um hotel bastante agradável. Ficamos em 4 quartos. Os meninos, mais o óculos do Gabriel e o celular do Artur, inclusive, aproveitaram para tomar banho de piscina antes da janta. Às 21h jantamos bifes de chorizo e massa com cerveja Quilmes e refrigerantes.

Dia 15 de janeiro, domingo
O desajuno estava incluído na diária e consistia de 2 medialunas e um copo de café por pessoa. Saímos às 6h30min. Continuaram as boas estradas, as vastidões planas e o tempo foi entre nublado e chuvoso. Passamos uma enorme ponte estaiada sobre o rio Paranaguaçu. Somente ao final da tarde o sol apareceu. Comemos uns sanduíches de salame, presunto ou matambre num posto do Automóvel Club Argentino. Antes de Bahia Blanca havia grandes plantações de milho ou girassóis colorindo o pampa. Exceto pelos motoristas (ainda bem), os viajantes fizeram a terapia do sono, especialmente os quatro mais jovens que dormiram 80% da viagem. Logo depois de Bahia Blanca havia uma barreira fitossanitaria, mas que não foi muito rigorosa, apenas perguntaram, pela janela, se tínhamos alguma fruta, vegetal...ao que o Ricardo declarou que tínhamos maçãs. Bem, como esperado, elas foram confiscadas! De qualquer forma, poderíamos ter que deixar mais comidas caso fôssemos revistados. Dormimos em Pedro Luro, num típico hotel de beira de estrada, novo e bem ajeitado, com banho muito bom e quartos limpos. No restaurante do hotel pedimos 4 pizzas, sendo que uma foi embrulhada para a viagem já que o pedido foi exagerado. O cara que nos atendeu no local, provavelmente dono do hotel, estava prá lá de Bagdá, bebendo cerveja com amigos e demorou um bocado para providenciar a janta, depois mais um longo tempo para acertar a máquina de passar o cartão de crédito e ainda acertar o lado do cartão a ser inserido nela (!) Uma família paulista que encontramos estava retornando de Ushuaia e contou, um tanto chateada, que pegou só chuva na cidade do fim do mundo! Neste dia andamos 1.160km. Vale registrar que passamos por muitos pedágios e de preços variados, entre 20 e 70 pesos.


Dia 16 de janeiro, segunda-feira
O desajuno abriu às 7h, nesta hora estávamos lá, prontos para iniciar bem o dia, com medialunas, pães, geleias, queijos, presunto, dulce de leche (é claro....). Saímos às 8h15min, com um lindo sol, céu azul e muito vento sobre as intermináveis planícies destinadas à pecuária que ladeavam a longa estrada reta. Eventualmente, nos campos, avistamos os primeiros grupos de guanacos. Em Viedma fizemos uma parada para cambiar mais dinheiro, já que alguns pagamentos de combustível e lanches foram aceitos somente em "efetivo" e nos sobravam poucos pesos. Já ao sair da van, na margem do rio Negro, sentimos o calor e o clima seco, desértico. Trocamos dinheiro em uma agência de turismo, com câmbio menos favorável do que na fronteira. Caminhamos um pouco pelo centro e percebemos que a população é predominantemente de descendência indígena, com algumas pessoas de traços europeus e olhos azuis, provavelmente de origem galesa que existe na região. Paramos em um posto para colocar diesel e comer uns sanduíches. Chegamos na entrada da Península Valdéz pelas 16h e pagamos 330 pesos por pessoa para ingressar, já que se trata de um Parque Nacional com muito controle em função do ecossistema. Após a guarita da entrada, seguimos mais um pequeno trecho até chegar ao centro de visitantes, onde tivemos informações sobre as distâncias, clima, marés e estrutura do lugar para podermos planejar os passeios. Ali também visitamos as exposições que explicam a flora, fauna, história da Península, com destaque para o esqueleto de uma baleia franca austral. Recebemos mapas da Península e fomos informados que amanhã chegará um navio em Puerto Madryn, portanto, muitos turistas farão o trajeto mais usual, da Caleta Valdéz e punta norte, que seria melhor evitar. Fomos até o pequeno município de Puerto Pirámides, o único em que é permitido alojar-se, seja em hotel, camping e tem alguns restaurantes e comércio em poucas ruas. Alguns desceram a última colina pedalando. No único camping local, nos estabelecemos para ficar 3 noites. A diária é de 150 pesos por pessoa e 20 pesos pelo carro. A água potável é escassa, então, o banho é das 19h às 21h e cada acampante recebe um tíquete que dá direito ao banho do dia, limitado a 3 minutos e muito bom. O camping não tem muita estrutura, mas fica na beira da praia, então, muita gente acampa, ou traz motorhome, traillers, para desfrutar do litoral, o que parece uma insanidade, dada a temperatura gélida da água. Demoramos um pouco para achar um local e montar as 3 barracas iglu - duas pequenas para os casais e uma maior para os 4 jovens. Não há árvores, mas uns ciprestes arbustivos que são suficientes para oferecer alguma sombra. Os banheiros são relativamente limpos e há tanques para lavar louça e roupas na parte externa. Nos chamou a atenção que as churrasqueiras ficam totalmente desprotegidas de vento e sol - e os dois são intensos no local. Muitas famílias acampam e montam estruturas que parecem ser para mais de um mês. Nesta noite jantamos em um restaurante muito aconchegante, sendo que o Ricardo e o Cascata se empanturraram com uma tábua de frutos do mar variadíssima e a Débora comeu salmão branco, que é típico da região, mas não foi muito gostoso.


Dia 17 de janeiro, terça-feira
Dormimos ao som de umas vizinhas jovens que cantavam alegres durante a madrugada, no repertório, até o hino argentino, coisa de bêbados felizes. O clima comprovou ser de deserto: após o calorão do dia, a noite foi bastante fria, tivemos de puxar os edredons ou fechar os sacos de dormir. O Cascata e a Bruna acordaram às 6h30min e foram tentar comprar pão, mas nada estava aberto. Ainda antes do café o Cascata decolou seu super drone e fez bonitas fotos aéreas do acampamento. A maioria do grupo acordou tarde e preparamos sanduíches, pães com geleia ou Nutella, leite, café, granola, enfim, investimos no café da manhã, pois a próxima refeição seria somente a janta, como de costume nestas nossas viagens. Saímos pelas 11h, rumo a Punta Pardelas, uma praia recortada com pequenos e redondos cascalhos na beira do mar. Vários motorhomes antigos estavam estacionados na praia, que não tem qualquer estrutura, nem bar, nada. Muito sol, dia lindo. Alguns quiseram pedalar um trecho e pegaram bastante poeira. Arranjamos um jeito de colocar as bicis dentro da van (suuuuuper espaçosa mesmo) sobre as malas e uma lona, para facilitar a retirada quando desejado, nestes passeios. Durante as viagens mais longas as bicicletas seguiam em cima da van mesmo, nas canaletas. Uma ou duas crianças se aventuravam na água gelada, dois nadadores com roupas de neoprene, mas o Artur e o Ricardo não se mixaram, tiraram a camiseta e pularam de uma elevação mergulhando no mar, além de gelado, extremamente salgado segundo eles e a Bruna, que também foi corajosa e mergulhou. A paisagem é muito seca, somente uma vegetação rasteira e espinhosa cresce longe do mar. Perto da praia umas falésias altas, uma faixa larga de areia dura junto ao mar, cuja maré estava baixando - há grande variação da maré na península. Muito lindo o lugar. Depois, seguimos pela estrada poeirenta até a Salina Chica, sempre com alguns pedalando. A salina tem alguma água, dependendo da estação e uma cor rosada em função dos pequenos crustáceos que vivem sob o solo - num ambiente tão inóspito!!!! O solo salgado, em algumas partes afunda o pé e, por baixo do sal, há uma grossa camada muito preta e fedorenta de lama, como o Ricardo pode conferir com seus tênis novinhos. Voltamos para o camping, para pegar o horário do banho. O Ricardo e o Artur resolveram voltar de bicicleta a partir de certo ponto, mais precisamente 35km ( ! ) e chegaram às 21h20, então, tiveram de convencer o recepcionista do camping a abrir o banheiro para tomarem banho. Jantamos num hotel na beira mar, atendidos por um garçon grosseiro que não recebeu nossos 10%! Tomamos vinho da região patagônica.


Dia 18 de janeiro, quarta-feira
Dia de visitar a Caleta Valdés e a Punta Norte. Dentro da península as distâncias são grandes, temos de planejar o diesel, a comida, a água e o tempo para chegar nos locais. O que favorece é o verão, que oferece luz do dia até quase às 22h nesta região. É preciso, também, estar disposto a enfrentar muita poeira, pois somente o trajeto de entrada do parque, até o povoado de Punta Pirámides é asfaltado. Neste dia os jovens, o Ricardo e o Cascata pedalaram bastante pelas estradas de chão. Pelo caminho íamos avistando muitas perdizes e guanacos. Na Caleta Valdés vimos os primeiros pinguins e muitos elefantes marinhos que vivem por ali, tomando sol, se alimentando, num mar de intenso azul turquesa. Na Punta Norte (único local que tem uma estrutura de banheiro, café e bar), ao chegarmos, fomos recebidos por tatus peludos, que fazem suas tocas junto ao acesso para o mirador. Logo ouvimos o barulho das centenas de leões marinhos que disputavam terreno na praia e brigavam por seu harém. Também vimos inúmeros filhotes pretinhos, recém nascidos, brincando e até placentas (o nascimento dos filhotes é justamente nas duas semanas finais de janeiro) que eventualmente estavam na praia ou boiavam no mar e eram logo atacadas por gaivotas. É a natureza que trabalha sozinha! Uma orca ao longe, soltava seus esguichos, mostrava suas nadadeiras e muitos pássaros (gaivotas, petrel, cormorones) sobrevoavam o lugar. Aguardamos até depois das 18h30 para ver se a orca se aproximava, como haviam nos dito alguns guias locais, mas isso não aconteceu e precisávamos voltar a tempo para o banho no camping. Depois do banho, jantamos no restaurante La Estación, charmoso, melhor comida até o momento, mais barato da península e atendimento nota dez. Sempre é bem frio à noite - precisamos colocar nossos casacos.


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