Dia 19 de janeiro, sábado
"Poucas cidades exercem um fascínio tão grande quanto Havana. Em que outro lugar um guerrilheiro como Che Guevara iria de limusine para o Banco Central, onde era presidente?
Al Capone chefiou a Máfia norte-americana do sexto andar do Hotel Sevilla, onde Graham Greene situou parte do romance Nosso homem em Havana.
Winston Churchill descansou ao final da guerra numa suíte do Hotel Nacional, degustando charutos cubanos. Ava Gardner, Errol Flynn, Marlon Brando e Clark Gable também gostavam de passar férias no Nacional.
Ernest Hemingway comemorou o Prêmnio Nobel de Literatura na cidade e depois foi tomar mojito no La Bodeguita, o bar preferido de Salvador Allende e Nat King Cole, popularizado no Brasil nos versos de Chico Buarque.
O garçom Constante Ribalaigua colocou o El Floridita na história ao usar gelo picado para criar uma bebida à base de rum claro com suco de limão, batizada de daiquiri.
Ah, e quase esquecia: Gabriel Garcia Márquez e Fidel Castro ainda moram lá.
Aos poucos, à medida que as leis impostas pelo partido comunista caem em desuso, Havana recupera o charme. Comecei minha aventura ouvindo jazz no Malecón, entre as belas filhas de Oxum, e terminei no Tropicana Nightclub, um dos mais famosos cabarés do mundo.
Estas crônicas procuram resgatar parte dessas histórias e mostrar como os havaneses vivem – lutando contra as dificuldades econômicas, mas orgulhosos de sua capital."
"Poucas cidades exercem um fascínio tão grande quanto Havana. Em que outro lugar um guerrilheiro como Che Guevara iria de limusine para o Banco Central, onde era presidente?
Al Capone chefiou a Máfia norte-americana do sexto andar do Hotel Sevilla, onde Graham Greene situou parte do romance Nosso homem em Havana.
Winston Churchill descansou ao final da guerra numa suíte do Hotel Nacional, degustando charutos cubanos. Ava Gardner, Errol Flynn, Marlon Brando e Clark Gable também gostavam de passar férias no Nacional.
Ernest Hemingway comemorou o Prêmnio Nobel de Literatura na cidade e depois foi tomar mojito no La Bodeguita, o bar preferido de Salvador Allende e Nat King Cole, popularizado no Brasil nos versos de Chico Buarque.
O garçom Constante Ribalaigua colocou o El Floridita na história ao usar gelo picado para criar uma bebida à base de rum claro com suco de limão, batizada de daiquiri.
Ah, e quase esquecia: Gabriel Garcia Márquez e Fidel Castro ainda moram lá.
Aos poucos, à medida que as leis impostas pelo partido comunista caem em desuso, Havana recupera o charme. Comecei minha aventura ouvindo jazz no Malecón, entre as belas filhas de Oxum, e terminei no Tropicana Nightclub, um dos mais famosos cabarés do mundo.
Estas crônicas procuram resgatar parte dessas histórias e mostrar como os havaneses vivem – lutando contra as dificuldades econômicas, mas orgulhosos de sua capital."
Airton Ortiz, autor de Expedições Urbanas: Havana, Ed Record
Conhecer Cuba era algo há mais
tempo pensado. Saímos de Porto Alegre felizes por sabermos, um tanto
inesperadamente, que estaríamos na classe executiva da COPA Airlaines. Não sei
exatamente como isto aconteceu, mas pela primeira vez na vida viajamos com
mordomias de refeições, bebidas especiais, filme, cobertorzinho, etc. Foi um
voo especial mesmo! Fizemos escala no Panamá, onde tivemos que esperar 4 horas,
então, ficamos andando e conhecendo o enorme aeroporto.
Chegamos em Cuba à noite. Nos
esperava no aeroporto José Martí o sr. Abel, que nos conduziria ao centro -
Habana Vieja - até um apartamento vizinho ao de seu irmão. Pois é, reservamos
com o irmão do Abel – “Las Terrazas de Manolo”- mas o Manolo nos alertou por
e-mail que estava lotado e ficaríamos em uma vizinha sua. Ao sairmos do
aeroporto vimos o enorme e velho Ford 54 azul que nos esperava. Colocamos as
malas e andamos por alguns metros até sermos barrados por um policial que ficou
mais de meia hora conversando e explicando coisas para o Abel. Pelo que
entendemos, não era permitido que um carro que não fosse táxi do aeroporto
aguardasse turistas, então, o policial chamou um táxi comum (ou seja, com
identificação de táxi, novinho, moderno – que pena!!!), para o qual tivemos que
ir. Não vimos mais o Abel, pois ele teve que ficar lá com o carro e
provavelmente foi multado.
Já era tarde quando chegamos no destino – rua Cuba, nº 611. Quem
nos aguardava eram o Octávio e sua irmã Célia, que cuidam do apartamento, cuja
única função parece ser o aluguel de quartos para turistas – especialmente
europeus. Nos hospedamos em dois quartos que, como o resto do ap tem decoração
antiga e um tanto brega em alguns itens, mas lustres de cristal lindíssimos
(até no banheiro) e tudo muito limpo.
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Dia 20 de janeiro, domingo
Café da manhã surpreendente: suco
natural, café, leite, iogurte, 1 prato de frutas variadas (todas descascadas,
cortadas e muito doces) para cada um, pãezinhos fofinhos aquecidos no forno,
mel, manteiga. A Célia comentou que comíamos pouco no café da manhã. O padrão
dela é dos alemães, que devoram ovos, bacon, etc por isso nos cobrou bem menos
do que seria o preço – sim, o café é pago à parte – U$5,00, mas pagamos U$2,00
por pessoa.
Habana Vieja é velha mesmo...e bonita...e
diferente... e pitoresca...e feia em alguns lugares. Muita gente pelas ruas
estreitas, muitos riquixás, cocotáxis, motos com o caroneiro do lado, etc.
Falta pintura nos prédios, falta arrumar a fiação – é de enlouquecer o monte de
fios elétricos puxados por fora dos prédios, pelas escadas, enrolados, uma
confusão! Mas os prédios, em geral, são lindos, clássicos, enormes escadarias,
sacadas charmosas, janelas e portas altas, bonitas. Já os lugares turísticos,
estão bem arrumados, restaurados.
Começamos visitando a Plaza da Catedral,
muito bonita com sua igreja antiga em frente ao grande vão que é circundado por
sobrados e casarios lindíssimos, com vitrais coloridos e tudo mais em tons de
azul e branco. Caminhamos um pouco até a famosa Bodeguita del Medio, onde já
antes do almoço estava um excelente grupo de músicos cantando, gente
acompanhando, fotografando, etc. Vimos da rua mesmo porque o lugar, como
sempre, pelo que dizem, estava cheio. A Bodeguita foi imortalizada por ter sido
local frequentado pelo Nobel de literatura Ernest Hemingway. Curiosidade: Ernest Hemingway viveu em Havana alguns meses e por mais de 20 anos
numa cidadezinha próxima à capital, durante este tempo escreveu O Velho e o Mar. O romance foi baseado na pequena
cidade portuária de Cojimar, onde Hemingway guardou seu próprio barco de pesca
e o personagem principal foi baseado em um pescador local que ele conhecia.
Seguimos até a beira mar para
andar um pouco pelo agradável calçadão, o Malecón, e apreciar a cidade de
outros ângulos. Decidimos pegar o ônibus turístico que faz um passeio bem
bacana pelas principais atrações e leva também até bairros mais afastados. Como
podíamos descer e retornar ao ônibus, ficamos inicialmente na praça em frente
ao Capitólio, vimos os prédios lindos ao redor dela e tentamos visitar o
Capitólio, mas soubemos que estava fechado para reformas L.
Visitamos O Museu de Belas Artes
Cubano – fantástico!!!! Exigiria um dia inteiro para ser bem apreciado,
escolhemos algumas alas que nos interessavam mais, mas o problema é que isto
representava uns 80%. Vimos muuuuitas obras interessantes - arte do período
colonial até os tempos atuais.
Saímos às 17h, quando o Museu
fechou e depois desta visita, cansados, acabamos comendo muito bem no
restaurante Asturiano, ali perto. Os pratos vieram lindos, enfeitados e bem
generosos, de camarão e lagosta. A comida em Cuba é barata, mas não muito
elaborada ou variada, então, alguns lugares acabaram surpreendendo positivamente,
como este. Uma coisa que nos chamou a atenção foi que é permitido fumar na
maioria dos ambientes fechados, inclusive restaurantes. Já não estávamos mais
acostumados a isto....também pudera, na terra dos charutos!
Após este almo-janta, caminhamos
por um calçadão em frente ao restaurante, denominado Paseo Prado, onde os ricos
costumavam passear de charrete e sentar para apreciarem e serem vistos. O local
é bem prazeroso e hoje é tomado por artistas de rua que expõem suas obras e
pessoas conversando nos bancos.
Pegamos novamente o ônibus turístico e fomos
até a Praça da Revolução, enorme, com o imponente monumento a José Martí à
frente e no outro extremo os dois edifícios com as imagens de Che Guevara e
Camilo Cienfuegos em cada um. Dá para ficar imaginando os grandes atos públicos
que já se sucederam ali, sempre com os intermináveis e enfáticos discursos de
Fidel Castro. Bem ao lado da Praça fica o Teatro Nacional e infelizmente não
havia “funciones” nestes dias em que estaríamos em Havana, o prédio por fora, é
bem interessante e moderno.
Voltamos ao HabanaBusTur – sempre
no andar de cima, aberto, é claro. Passamos por uma área mais nova da cidade,
zona de hotéis, o aquário da cidade e pelo cemitério – Necrópolis de Colón, as
embaixadas de vários países, um pedaço do Malecón e descemos novamente na praça
do Capitólio. Junto a esta praça, descobrimos outro point ligado à história de
Ernest Hemingway – o bar e restaurante Floridita, onde dizem, foi inventado o daiquiri.
Então, nosso pedido não poderia ser outro – provamos o famoso e bom mesmo(!)
daiquiri do Floridita. A conta, de dois drinks e dois sucos foi beeem salgada,
mas valeu por ver o lugar, muito charmoso e tirar foto com a estátua do
escritor num canto do balcão. Bem, fizemos muita coisa neste dia!!! Decidimos
ir para casa e tomar banho. Depois conhecemos ainda a Plaza de Armas (uma das
ruas, em frente ao Teatro tem o calçamento de madeira) e a Plaza Vieja. Esta
última, muito recentemente restaurada e maravilhosa. Comemos uns sanduíches,
“tapas de salmón” e salada e depois, retornamos para nosso ap.
21 de janeiro, segunda
No nosso segundo dia de Havana
resolvemos ver inicialmente a Camara Oscura que foi instalada no último andar
de um prédio junto à Plaza Vieja e proporciona interessantes vistas da cidade
através de um jogo de espelhos. Avistamos o porto, a cúpula do Capitólio
(copiado do americano), algumas igrejas, uma com uma grande cúpula dourada, o
farol e todo o contraste de prédios antigos muito detonados e outros lindíssimos,
já restaurados, como é o caso das praças, belíssimas, próximas ao prédio da
Camara Oscura. Ali ao lado compramos
ingressos para um show noturno do Conjunto Roberto Faz.
Depois fomos à Plaza de Armas,
onde há uma espécie de brique, com vários vendedores de livros, discos de
vinil, cartazes da época de revolução e diversos souvenirs expostos. O local é
bem agradável, cercado de restaurantes e bares com mesas nas ruas sob toldos
para proteger do sol quente de Cuba. Neste momento muitos turistas europeus que
faziam parte de um cruzeiro estavam chegando à praça.
Caminhamos pelo centro,
especialmente a movimentada rua Obispo, que só admite pedestres e é o coração
da cidade, admirando a diversidade da população, entre turistas esquisitos,
cubanos muito arrumados, com seus cabelos bem cortados e estruturados com gel,
as mulheres com unhas bem feitas, estudantes em seus uniformes (cada ciclo da
escola tem sua própria cor – amarelo/ocre, azul ou bordô), etc. Na Infotur,
nesta mesma rua central, pegamos algumas informações sobre atrações de cidades
do interior para formar nosso roteiro, já que desejávamos conhecer várias
outras cidades de Cuba também.
Numa das caminhadas fomos
surpreendidos por uma cubana que se apresentou como Mariela, se dizia vizinha
da casa onde estávamos e nos levou à casa de uns trabalhadores da empresa de
charutos Partagás, que ficava justo ali nas imediações, dizendo que aquele era
o dia em que os funcionários das fábricas de charutos podiam vender a cota que
ganhavam e que em relação aos preços normais de mercado eram muito vantajosos.
Ficamos muito desconfiados,...parecia conversa pra enganar turista e, acho que
era mesmo... nem fumamos charuto, mas
resolvemos comprar alguma coisa para presentear amigos. Mariela ainda nos levou a um local onde
haveria um show de salsa. Tomamos um suco e drinks com ela e não esperamos este
show iniciar – muito estranho, no meio da tarde!
Dali seguimos para a agência de viagens no
Hotel Saratoga, onde reservamos duas diárias em um resort all inclusive (não
é o nosso tipo de passeio, mas queríamos conhecer um pouco de tudo em Cuba,
inclusive os famosos “Cayos” – praias em ilhas paradisíacas – e este era o melhor jeito). Caminhamos
novamente pela rua Obispo, até o Hotel Ambos Mundos, muito bem localizado, em
pleno centro da cidade velha, tem no térreo uma agência de aluguel de carros, onde
fomos alugar um veículo para nossa jornada pelo interior cubano. O Hotel Ambos
Mundos é um capítulo à parte, ponto turístico em função de ter sido a casa de
Ernest Hemingway por algum tempo, tem muitas fotos no térreo mostrando seu
ilustre hóspede e vários amigos famosos. Muitos grupos de excursão chegavam
acompanhados de seus guias, que explicavam sobre a vida do escritor, prêmio
Nobel de literatura, e do próprio hotel. Sentamos no bar, junto à recepção para
comer uns sanduíches e tomar refrigerantes, água. Claro, em Cuba não se
encontra coca-cola, então, tomamos “Tu Kola”, a versão cola de Cuba, e uma
bebida chamada Malta (adocicada, não nos agradou).
Depois de termos o básico
planejado para nossa jornada nos dias seguintes (carro e 2 diárias em um
resort), caminhamos até o Museu de La Revolución. O prédio foi construído para
ser o Palácio Presidencial e era considerado um símbolo da corrupção administrativa da época do ditador Fulgencio Batista, que foi derrubado
pela revolução dos barbudos, em 1959. O acervo tem objetos, fotos e documentos
que contam desde a tomada fracassada do quartel de Moncada até a chegada vitoriosa
dos revolucionários à capital. A construção em si, é lindíssima,
imponente, toda pintada de branco, com uma grande cúpula no centro e uma mescla
de estilos, situada de frente para uma praça comprida que desemboca no Malecón.
Entra-se por arcos que estão na base do prédio e as escadarias em mármore
conduzem até as salas de exposição que contam e exaltam a história de Che
Guevara, Fidel Castro, Raul Castro, Camilo Cienfuegos e outros companheiros no
final da década de 50. Uma bandeira linda de Cuba, que ocupa todo o vão do teto
altíssimo até o chão fica aberta no centro do prédio. Numa das galerias vê-se
as marcas das balas nas paredes, resultado de uma das batalhas travadas no
local, durante a ocupação pelos revolucionários. Anexo ao Museu, atrás dele,
foi construído o Memorial Granma todo envidraçado – para abrigar o famoso iate Granma,
que conduziu os revolucionários do México até Cuba, em sua primeira investida
para deflagrar a revolução. No Memorial também estão carros militares da época,
lançadores de mísseis, artefatos variados da guerra.
Ao sairmos do Museu ainda
conseguimos caminhar pelo agradável calçadão à beira mar, democrático e
interessante, onde muita gente de Havana termina suas tardes, como nós,
assistindo ao por do sol.
Voltamos para casa, sempre a pé, isto é muito
bom em Habana Vieja, faz-se muita coisa caminhando, e nos preparamos para o
show da noite. Fomos a pé, pois o show também era pertinho, no centro antigo. O
Ricardo deu uma dentro comprando ingressos para o show, com janta, na 1ª fila,
nossa mesa ficava grudada no show. E isso foi muito bom, pois não havia palco,
então, as pessoas que estavam longe não viam metade das performances, pés e
rebolados do casal de dançarinos excelentes que nesta noite animou a
apresentação. Os músicos e cantores do “Conjunto Roberto Faz” equivaliam a uma
velhíssima guarda de escola de samba, ou seja, muitos deles eram os velhinhos
que nas décadas de 60 e 70 arrasavam na salsa, na rumba, no bolero. Muitos
instrumentos de sopro e percussão. Foi maravilhoso – a comida nem tanto, mas o
show, valeu muito! Divertido, os bailarinos tiraram duas vezes o Ricardo para
dançar e, no final, o Artur e a Luísa também foram. Voltamos para casa na
escuridão de Habana Vieja – sim, a iluminação pública é muuuuito precária e,
apesar disto e da aparência de fim de guerra de vários prédios do trajeto,
sentimo-nos seguros, o clima era de muita tranquilidade pelas ruas à noite.
A foto do carro azul está demais. É bom esse fotógrafo. Abraços!
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